Pesquisas indicam que a sobrecarga de informações pode reduzir a capacidade de pensar em profundidade
Mesmo para os avessos à internet, nunca houve tanta informação disponível e não solicitada na rotina de uma pessoa comum. No caso de quem gosta de estar conectado, então, o volume de dados cresce a perder de vista. É o que acontece com o editor de vídeo David Donato, 28 anos, que passa cerca de 12 horas por dia na frente de um computador, intercalando trabalho com navegação na rede, Twitter e programas de mensagem instantânea. Além do celular, que o deixa ligado 24 horas por dia. O estilo de vida de Donato está longe de ser exceção, principalmente entre as novas gerações. Por isso, pesquisadores têm se debruçado para entender esse novo padrão de comportamento, tendo em mente a seguinte questão: diante de tantas fontes e recursos diferentes, é possível dar conta das informações sem perder o foco?
Um estudo da Universidade da Califórnia (EUA) já antecipou a resposta. E ela é não. O trabalho americano constatou que o excesso de informações propiciado pela internet é tamanho que excede a nossa habilidade mental de processar e armazenar novos dados no cérebro. Isso porque nossa capacidade de assimilação está ligada à memória de curto prazo. Quando a carga de informações excede nossa capacidade, não conseguimos retê-la e conectá-la com as memórias profundas, ou de longo prazo. Ou seja, não conseguimos traduzir novas informações em conhecimento.
Mas, com as perdas, há ganhos, garantem os pesquisadores. De acordo com a professora de psicologia Patricia Greenfield, da Universidade da Califórnia, “cada meio desenvolve um tipo de inteligência, à custa de outros, que se perdem”. Segundo um estudo dela, de 2009, o uso crescente de internet e outras mídias baseadas em telas “levou ao desenvolvimento de habilidades visuais sofisticadas”, por exemplo. Por outro lado, houve uma perda na capacidade de pensar em profundidade. “Em 20 anos teremos dados de longo prazo para analisar”, afirma a pesquisadora.
Há também quem ache todas essas teorias apocalípticas demais. É o caso de Rosa Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Ainda estamos numa fase de transição e adaptação”, afirma. Para ela, os nativos digitais já vivem isso de forma natural, como acontece com Donato, sem que seja um fator de stress. “Eu gosto da opção de ter informação, mesmo que ela seja irrelevante”, afirma o editor. O segredo é saber onde buscá-la.
Fonte: ISTOÉ Independente
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