sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Exclusão bancária faz consumidor recorrer a crédito mais caro

Estudo do Ipea mostrou que quase 40% dos brasileiros não possuem conta em banco. Sem alternativas, população recorre a cartões de crédito de lojas, as quais cobram juros mais altos

Embora tenha quase dobrado o número de contas bancárias no Brasil entre 2000 e 2008, o número de brasileiros "desbancarizados" ainda atinge 39,5% da população, segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada na terça-feira (11/01), na qual o Idec foi um dos parceiros comentando o projeto da pesquisa e seus resultados. As situações mais críticas ocorrem no Nordeste (52,6%) e Norte (50%).

O estudo "Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre Bancos: exclusão e serviços" mostrou ainda que a a oferta de crédito não é vista pelas pessoas como a principal função dos bancos. Enquanto apenas 4,5% da população acredita que "emprestar dinheiro" é a principal função do banco, 62,1% afirmam ser "Movimentar / guardar dinheiro", enquanto outros 29,5% apontam "Oferecer produtos e serviços / pagar contas".

Na visão do Idec, tanto a exclusão bancária quanto a visão distorcida da real função dos bancos são prejudiciais ao consumidor. "Ao não possuir conta em banco, a população não tem acesso ao crédito bancário e acaba recorrendo ao crédito oferecido em redes varejistas, como os cartões de lojas. A população de baixa renda acaba penalizada por pagar juros mais altos", afirma a coordenadora executiva da Idec, Lisa Gunn. Além disso, "a oferta de crédito de forma responsável pelos bancos deveria ser uma das principais funções sociais dos bancos para promover o desenvolvimento social e econômico do país", acrescenta.

Precarização
A exclusão bancária também faz com que muitas pessoas usem a rede de correspondentes bancários - casas lotéricas, caixas de supermercado - para realizar alguns serviços financeiros. Essa modalidade não pode ser pensada como forma de promover a inclusão bancária, pois, para o Idec, pode causar uma precarização para os consumidores, que já enfrentam dificuldades no acesso a informações claras e adequadas dentro da agência bancária, têm o problema agravado fora dela.

Além disso, com os correspondentes bancários também, da forma como é hoje, representam uma precarização das relações de trabalho, já que os funcionários dos correspondentes não trabalham sob os mesmos direitos previstos para a categoria de bancários.

Quanto ao fato de apenas 4,5% dos clientes dizerem que os bancos servem para emprestar dinheiro, segundo Lisa, existe pouco conhecimento sobre o sistema financeiro por parte da população, "pois a maioria das pessoas não sabe que os bancos estão por trás dos financiamentos de automóveis, eletrodomésticos, roupas, das grandes redes do comércio varejista brasileiro".

Satisfação com segurança e horário de atendimento

A conclusão da pesquisa, feita presencialmente com 2.770 pessoas de todos os estados do País, indica que a população pesquisada demonstrou satisfação com o serviço, mas é preciso chamar atenção para a limitação dos itens questionados. Cerca de 78,2% dos respondentes se disseram "satisfeitos" ou "muito satisfeitos" com a segurança oferecida nas operações bancárias feita em agências. Já em relação ao horário de atendimento das agências, 65,1% declararam satisfação.

Lisa Gunn afirma que é preciso considerar as inúmeras reclamações de consumidores nos Procons. Segundo dados do SINDEC - Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor, que reúne as reclamações dos Procons pelo Brasil, coordenado pelo DPDC do Ministério da Justiça, assuntos financeiros respondem por grande número de reclamações de consumidores.

Em pesquisa realizada pelo Idec em março de 2010, foi identificado que muitas instituições não cumprem o Código de Defesa do Consumidor, as resoluções do Banco Central e o Decreto do SAC. O maior número de queixas do setor está relacionado a serviços fornecidos sem solicitação, tais como envio de cartões de crédito, além de tarifas debitadas indevidamente, falta de fornecimento de cópias dos contratos, pouca informação e filas intermináveis, entre outras.

Fonte:IDEC

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